sexta-feira, 2 de abril de 2021

Uma hora de oração com Jesus agonizante no horto das oliveiras


Uma hora de oração com Jesus agonizante no horto das oliveiras

Da bem – aventurada Elena Guerra praticada por Santa Gemma Galgani

Introdução

Põe-te, ó alma piedosa, na presença do teu amantíssimo Salvador, e pensa naquela noite em que o bom Jesus, depois de ter instituído a Sagrada Eucaristia, para teu alimento, sai com os apóstolos e se encaminha para o horto das oliveiras, a fim de dar começo àquela dolorosíssima Paixão, com a qual devia salvar o mundo.

Aquele rosto divino, em que resplandeciam todas as graças e formosura, cobre-se de palidez mortal, reflexo da grande e profunda tristeza que lhe aniquila a alma, tristeza que o bom Jesus manifesta por suas próprias palavras.

O aflito Jesus volve a ti o seu olhar, como para te dizer: ó alma querida, que tantas amarguras me custastes, permanece comigo ao menos uma, e vê se há dor à minha dor! Considera como na noite da minha agonia debalde “prometi alguém que me consolasse e não o achei”.

Meu adorável Jesus, poderá haver criatura tão ingrata e de coração tão endurecido, que se recuse a passar uma hora em vossa companhia, recordando aqueles mistérios de imensa dor e incomparável amor, que se cumpriram nas trevas da noite de vossa Paixão no Jardim das Oliveiras?

Meu bom Jesus, eis-me aqui convosco. Dignai-vos fazer-me compreender a crueldade dos vossos sofrimentos e o excesso de amor que vos levou a vos imolar como vítima dos meus pecados e de todos os homens.

PRIMEIRO QUARTO DE HORA

A tristeza de Jesus

A minha alma está numa tristeza mortal (Mt 26,38)

 

Não há sofrimento que se possa comparar com os da hora da morte.

Por isso o nosso Salvador, que é a verdade infalível, para nos fazer compreender a dor excessiva que o oprimiu na entrada do horto, declara que sua alma está submersa numa tristeza mortal, isto é, que a dor que sofre é tão grande que lhe pudera causar a morte.

Encaminha-se depois para o horto das oliveiras e, chegando ao lugar onde costumava passar as noites em oração, exorta seus fiéis discípulos que levara consigo para serem testemunhas de suas amarguras, a velarem e rezarem juntamente com Ele. E afastando-se à distância de um tiro de pedra, prosta-se ante a Majestade de seu Pai e dá começo à oração mais generosa que já se fez neste mundo.

A primeira causa da tristeza de Jesus no jardim foi a vista do horrendo cúmulo de tormentos e opróbrios que em breve se deviam arremessar a Ele, como as ondas bravias de um mar encapelado pela fúria da tempestade.

Com efeito, apenas se afasta de seus queridos discípulos, apresentam-se lhe o pensamento todas as horríveis cenas de dor e de sangue de sua Sagrada Paixão: traições, ironias, irrisões, calúnias.

Ainda mais: uma cruel flagelação, com grande número de açoites, que suas carnes dilaceradas cairão aos pedaços, até se lhe descobrirem os ossos! Mas não basta. Pungentes espinhos hão de atormentar até a morte sua sagrada fronte! Prevê ainda as bofetadas, escarros e mais tratos! Mais: há de sofrera infâmia de uma condenação injusta, e será escarnecido pelos magnatas de sua nação e pelo povo.

Depois, desfalecido por tantos sofrimentos, arrastar-se-á até o monte do sacrifício, carregando aos ombros chagados a cruz, a cujo peso sucumbirá multas vezes. Beberá o amargoso fel, será despido diante de uma multidão insolente, pregar-se-ão suas mãos e seus pés, naqueles cravos ficará pendendo três horas suspenso entre o Céu e a Terra, para expiar, num abismo de sofrimento, as iniquidades do gênero humano! Ainda não é tudo.

A esses inumeráveis e atrozes tormentos acrescerão os mais amargos escárnios, os insultos e as provocações!

Depois, a sede ardente, torturante, aumentada mais ainda pelo vinagre! O abandono do Pai... a dor imensa de sua Mãe diletíssima e a horrível e pavorosa morte!

Alma remida, filha das penas atrozes de Jesus, considera o teu Salvador, abismado em um oceano de dores, e tudo isso por teu amor, para te salvar, para te levar consigo ao Paraíso.

Jesus, oprimido por tanta angústia, procura os seus três discípulos, aos quais recomendara que velassem e rezassem, mas encontra-os dormindo.

Nem uma palavra de conforto, nem um sentimento de compaixão para com Jesus agonizante!

Na amargura desse abandono, Jesus a ti se dirige, ó alma piedosa, para ver se encontra em teu coração um pouco de afeto, de compaixão, de gratidão...

E não terás uma palavra de conforto para o bom Jesus? Se estiveras ao seu lado na noite de sua agonia, que lhes disseras?

Ah! Abre-lhe o teu coração e fazes o que então fizestes, o que muito lhe agradará, pois Jesus aceita sempre com a mesma complacência as demonstrações de afeto dos corações dos seus filhos fiéis.

Pausa de Silêncio

OFERECIMENTO

Pai Santo, que tanto amastes o mundo, a ponto de sacrificardes o vosso Filho humanado, eu vos agradeço, em nome de todos os vossos filhos remidos, este ato de vossa infinita caridade e vos ofereço a santidade perfeitíssima e todos os merecimentos do vosso Filho unigênito.

Pai – Nosso, Ave – Maria e Glória.

Pai Santo, que para nos livrar da perdição eterna, acumulastes sobre a adorável humanidade do vosso Filho unigênito, o peso formidável de todas as nossas iniquidades, eu vos ofereço as agonias de Jesus no Gêtsemani, suplicando-vos que me concedais gozar o fruto de suas horríveis penas por toda a eternidade.

Pai – Nosso, Ave – Maria e Glória.

Pai Santo, que para reconciliar a culpada humanidade com Vossa Divina Majestade, submetestes a uma inexorável justiça o vosso Filho unigênito, que foi obrigado a carregar nos seus inocentes ombros todas as penas devidas às nossas culpas, ofereço-vos a submissão amorosa de Jesus no horto, suplicando-vos me concedais a graça da conversão e salvação de todos os pecadores.

Pai – Nosso, Ave – Maria e Glória.

 

SEGUNDO QUARTO DE HORA

Jesus geme sob o peso das iniquidades humanas

Nas trevas da noite e no abandono por parte dos seus queridos discípulos, já passou Jesus uma longa e penosa hora de sofrimentos.

A visão nitidíssima dos cruéis tormentos que o esperam, enche de terror e de angústias sua alma bendita. Mais enorme ainda lhe parece o peso de sua missão de Salvador do mundo. Vê já chegando o tempo de sua imolação.

A Terra e o Inferno conjuram contra ele. Há de sustentar, pois, uma grande luta: todos os ataques contra ele se dirigem.

E que faz Jesus? Empalidece, treme e humildemente recorre ao Pai, exclamando: “Pai, se é possível, afasta de mim este cálice”.

Qual será a resposta a essa humilde prece do Filho de Deus? Nenhuma. O Céu não responde ao pobre Jesus! Pois Jesus quer sofrer mais esta pena para nos implorar uma perseverança humilde na oração e uma confiança constante, mesmo quando o Céu parece não atender às nossas súplicas. Ah! Meu bom Jesus, não há pena que não quisésseis sofrer para nosso conforto e para nosso exemplo.

Acompanha, porém, ó alma piedosa, o teu Jesus que, levado pelo amor para contigo, avança ainda mais no caminho da dor. A série horrível de todos os crimes, de todas as perversidades dos filhos de Adão apresenta – se – lhe ao pensamento e dilacera – lhe a alma. E já se vê sobrecarregado de todas essas abominações: e, assim, coberto dessas imundícies, há de comparecer ante os olhos puríssimos de seu Pai.

Não é possível que a inteligência humana possa compreender, nem tão pouco imaginar o horrível tormento que sofreu então a bendita e inocentíssima alma de Jesus. Disso piedosamente já ele se queixara, dizendo pela boca do profeta: “Sobre as minhas costas trabalharam os pecadores!”.

Oh! Como está o querido Salvador oprimido sob o peso de tantos pecados! Mas o Divino Cordeiro, que está para ser imolado à justiça divina, tão ofendida pelos homens, depois de satisfazer as iniquidades humanas, imolando sua preciosa vida num patíbulo para tirar os pecados do mundo, poderá, ao menos, esperar que os homens, reconhecidos por tantos benefícios, estejam dispostos a abandonar o pecado e permanecer fiéis Àquele que com tantas penas os livrou da morte eterna? Ah! Prouvera que assim fosse, pobre Jesus.

Entretanto, um quadro ainda mais horrível aparece ante o seu divino olhar. Vê, depois de ter remido com tantos sofrimentos a humanidade, e de ter lavrado a Terra com seu sangue precioso, depois de ter infundido em seus filhos o divino Espírito – Santo e de ter transformado a Terra em um paraíso de graças n adorável Eucaristia, ah! Depois de tantos excessos de caridade, vê ainda reinar no mundo o pecado!

Vê conculcada sua santa lei, sua Igreja perseguida, caluniados os seus ministros, abandonadas as suas graças, o seu amor desprezo e, chorando exclama: Qual utilitas in sanguine meo? – “Para que derramar todo o meu sangue?”.

Para que morrer entre os tormentos de um patíbulo, se depois os homens, ingratos a tantos benefícios, hão de continuar sempre a se entregar ao demônio e à perdição eterna? Quando acabará no mundo o reino do pecado?

Aqui o bom Jesus lança um olhar a todos os séculos do porvir e, em cada século, em cada ano, vê pecados. Pecados em cada dia, pecados em cada momento! E o peso de todos esses pecados sempre mais O oprime e Lhe faz repetir: “Sobre as minhas costas trabalharam os pecadores; prolongaram a sua iniquidade” (Sl 128,3).

Ó minha alma, também estarias tu no número daqueles que, aumentando a cadeia dos pecados e adiando sempre, indeterminadamente, a conversão prometida, arranca do coração agonizante de Jesus aquele lamento cheio de tão justa dor?

Oh! Como é horrendo o pecado, depois que um Deus derramou todo o seu sangue para o destruir! Oh! Como é abominável o pecado em almas já lavadas por aquele sangue divino! Em almas unidas pela Santíssima Eucaristia ao Coração de Jesus! Ó aflitíssimo Salvador, tendes toda a razão de vos queixar e de chorar!

Mas, se Jesus com tanta razão se queixa dos pecados dos seus filhos em geral, quanto não sofrerá pelos pecados dos seus mais queridos, isto é, das almas que lhe são consagradas?

Alma direta, exclama o Redentor, almas da minha paz, isto é, que sois as amigas íntimas do meu coração, almas que viveis em minha casa, almas que comeis o meu pão, almas que vos alimentais à minha mesa, por que me transpassais o coração com o pecado?

Povo do meu coração, que é o que vos fiz? Em que vos magoei? Mitiguei-vos a sede com as águas celestiais da minha graça, e dai-me em troca vinagre e fel! Saciei-vos a fome com o precioso maná da minha Carne, e retribuis-me com bofetadas e flagelos! Povo meu, que é que vos fiz? Em que vos contristei? Eu vos preparei no Céu um trono, e vós me apresentais um patíbulo!

Ó alma queridas, diletas do meu coração, que podia eu fazer por vós que O não tenha feito? Que coisa há que eu devesse fazer à minha vinha que lhe não tenha feito? (Is 5,4) E em troca de tanto amor, procurais-me tribulações e espinhos!

Pausa de Silêncio

OFERECIMENTO

Por que não poderia eu, ó meu aflito Salvador oferece-vos, em troca do vosso infinito amor, o meu coração e os de todos os homens, inflamados de ardentíssima caridade? Mui compungido pela minha frieza, ofereço-vos, ó bom Jesus, os desejos ardentes com que os antigos patriarcas e profetas suspiraram pela vossa vinda, e o santo zelo com que os vossos apóstolos levaram o vosso nome por toda a Terra.

Pai – Nosso, Ave – Maria e Glória.

Ofereço-vos, ó meu atormentado Redentor, a perfeita e terníssima compaixão que teve de vossos sofrimentos vossa Mãe Imaculada, a Virgem das Dores, e aa perfeitíssima gratidão com que ela, em nome de todo gênero humano, vos agradeceu, vos louvou e vos bendisse pelo benefício infinito da Redenção.

Pai – Nosso, Ave – Maria e Glória.

Meu agonizante Jesus não podendo eu, mesquinha criatura, darvos como desejara, algum conforto em tantas a amarguras, ofereço-vos a inexcedível alegria com que a adorável Trindade, juntamente com todos os anjos do Céu, aplaudiu a grandiosa obra da Redenção, por vós dolorosa e amorosamente consumada; e suplico-vos também que façais compreender a todos os vossos filhos, redimidos com o vosso sangue, este mistério de infinita caridade.

Pai – Nosso, Ave – Maria e Glória.

TERCEIRO QUARTO DE HORA

O generoso fiat

Contempla, ó alma remida o teu Salvador, que, com o coração ferido pela ingratidão humana, cai agonizante sobre a terra fria de Getsêmani. Aí está sozinho, abandonado, sem ter quem O console, a Ele, que nunca recusou conforto os atribulados aos fracos, aos infelizes!

Alma fiel, é chegado o momento de pagares ao aflito Jesus amor com amor. Que terias feito, à noite da Paixão, se estiveras ao lado de Jesus agonizante?

Meu aflito Senhor, quero levantar-vos do solo! Quero oferecer-vos meu coração para manter as cores da vossa face! Quero dizer-vos uma palavra que vos conforte!

Meu meigo Salvador, eu vos amo, eu vos amo! Que procurar-vos amor, quero proporcionar-vos amor, quero que todos vos amem, quero empregar toda a minha vida para que sejais amado, sim, para que sejais muito amado, sempre amado, eternamente amado por todos os vossos filhos.

Meu amável Jesus, disse-vos que estaria disposto a dar até a minha própria vida, isto é, que estaria pronto a suportar qualquer sacrifício para vos tornar amado; mas, quando encontrar alguma leve contrariedade, humilhação, recusa, repreensão, indelicadeza, sofrerei tudo isso por amor de vós? Amo eu realmente o sacrifício? Folgo de vos apresentar a mortificação de alguma paixão? Meu bom Jesus, envergonho-me e não sei o que vos hei de responder. Mas, aqui, perto de vós, aqui, na escola da dor e do amor, quero aprender, é meu doce Mestre, a mortificar-me, a sacrificar-me por amor de vós.

Passam, entretanto, lentamente as horas da mortal agonia de Jesus. Ele, o Deus do Céu e da Terra, geme, prostrado no chão, sem ter quem o conforte. E os discípulos? Que fazem eles? Dormem! Oh! Jesus, na noite de sua Paixão, havia de satisfazer também pelo pecado do abandono dos seus queridos discípulos, e sentia em seu coração toda a amargura desse abandono.

Jesus, então, aceitou e mesmo desejou esse sofrimento; mais agora, já não o quer: ao contrário, deseja que os seus filhos, remidos com o seu sangue divino, velem, meditando na sua Paixão. A maior parte dos homens, porém, dormem o sono dos ingratos, que consiste no esquecimento daquele que tanto nos ama e nos quer. Oh! Excesso de ingratidão e crueldade!

Ó bom Jesus, não vos conhecemos! Se vos conhecêssemos, pensaríamos sempre em vós, e o nosso coração não palpitaria senão por vós.

Enquanto Jesus, sozinho, geme e agoniza, prostrado por terra, eis que um anjo do Céu vem confortá-LO. Jesus, com a humildade de um Filho obediente, acolhe o mensageiro do Pai celestial, pronto a submeter-se às suas ordens. O anjo, porém, vem para O alentar, e não para lhe abrandar os sofrimentos nem para O livrar de sorver o amaríssimo cálice. Com efeito, o mensageiro celeste anima Jesus a afrontar a grande luta e a receber todos os golpes que contra ele arremessará p Céu, o mundo e o Inferno: o Céu, porque a eterna justiça de seu Pai está para punir nele todas as iniquidades humanas; o mundo, porque não podendo suportar a santidade do Filho de Deus, lhe prepara o patíbulo; o Inferno, porque incitado pelo ódio contra o Santo dos Santos, provoca com maior violência a crueldade dos inimigos de Jesus, para mais barbaramente o atormentarem. Depois o anjo o exorta Jesus a beber, até a última gota, o cálice abominável das perversidades humanas e a suportar o peso da Divina Justiça.

Entretanto, justiça e misericórdia esperam o Fiat de Jesus, com que se hão de conciliar para sempre. Espera- o Céu, para se poder povoar de santos: espera-o a Terra, que anela por ver cancelado pelo sangue do divino Redentor a maldição merecida pelo pecado; esperam-no os justos, prisioneiros no seio de Abraão, para poderem voar ao amplexo do Criador; esperam-nos míseros mortais, para tornarem a ser filhos de Deus e verem reabertas as portas do Paraíso.

Mas quando não vai custar esse Fiat ao meu Jesus! Ele inocentíssimo, Santo e Imaculado, tem de se revestir dos trajes de pecado, de criminoso! Tem de se fazer réu, tornando próprias as nossas iniquidades! Isto imensamente o aflige e o faz repetir: “Pai meu, se é possível, afasta este cálice!”. (Mt 26,29)

Pronuncia o Fiat, e consente tomar sobre si todos os nossos crimes, como se fora culpado dos mesmos; aceita e atrai sobre si os terríveis castigos a nós destinados.

Fiat: Faça-se, diz aos espinhos, para expiar os nossos maus pensamentos. Fiat, aos flagelos, para castigar em seu corpo inocente os nossos pecados sensuais. Fiat, aos insultos, aos escarros, às bofetadas, para expiar o nosso orgulho. Fiat, ao vinagre e ao fel, em satisfação dos nossos inúmeros pecados da língua e da gula. Fiat, à cruz e aos cravos, em reparação das nossas desobediências.

Fiat àquelas três horas de horrível agonia sobre o patíbulo, para cancelar todas as nossas culpas e reparar todos os nossos males. Fiat, finalmente, à morte, para nos dar a vida eterna.

Oh! Precioso Fiat, que alegra o Céu, salva o mundo e esmaga o inferno! Fiat, que parte cadeias e enxuga lágrimas! Graças vos dou, ó bom Jesus, graças vos dou por tão generoso Fiat. Bendigo-vos e agradeço-vos em nome de toda a humanidade.

Pausa de Silêncio

OFERECIMENTO

Pai Santo, que, em reparação de nossas rebeldias e desobediências, quisestes ser honrado com o generoso Fiat de Jesus no Jardim das Oliveiras: eu vo-lo ofereço em expiação de todas as ofensas que a vossa adorável Majestade recebeu de minha rebelde vontade, suplicando-vos que me concedais, pelos merecimentos desse mesmo Fiat, perfeita docilidade e obediência.

Pai – Nosso, Ave – Maria e Glória.

Pai Santo, pela glória que vos resultou do generoso Fiat de Jesus no Horto, suplico-vos me perdoeis todas as minhas rebeliões e desobediências, e me concedais a graça de sempre viver plenamente submisso à vontade dos meus superiores por amor de vós.

Pai – Nosso, Ave – Maria e Glória.

Pai Santo, pela magnanimidade e dolorosas consequências que a Jesus custou o Fiat do Getsêmani, suplico-vos me concedais a mim, a todas as almas que vos são consagradas e a todos os cristãos, aquele espírito de santa fortaleza, constância e generosidade que afronta alegremente, para vossa glória, qualquer sacrifício.

Pai – Nosso, Ave – Maria e Glória.

ÚLTIMO QUARTO DE HORA

O sangue de Jesus e seus frutos

Jesus já proferiu o nobre Fiat! Mas o esforço imenso o faz cair novamente em terra, agonizante, sob o enorme peso que sobre si tomou. De um lado, aperta-o a divina justiça, considerando-O como vítima universal, em que se reúnem todas as culpas e todas as penas: de outro, impele-O o desejo infinito de cumpri a sua missão de Redentor do mundo, o que lhe antecipa o doloroso e tão desejado batismo de sangue.

Ah! Já agora o bom Jesus se pode considerar o trigo escolhido, triturado entre duas mós de moinho, ou o sazonado cacho de uva, espremido no lagar.

Realmente, pela dor imensa que lhe oprime o coração, começa a suar sangue com tanta abundância que chega a banhar a terra do jardim.

Oh! Quanto custou a Jesus esse Fiat! Oh! Quanto teve que sofrer para pagar as nossas dívidas! Que vergonha é para mim tudo isso, pois recuso ainda os mais leves sacrifícios, depois de ter visto o meu Deus tornar-se vítima espontânea por amor de mim: “Foi oferecido porque ele mesmo quis”. (Is. 53,7).

Mas, para que, doce Jesus, vos consumirdes entre tantas dores, vós, que com um só suspiro poderíeis salvar o mundo todo?

Já o profeta predissera que a redenção de Jesus seria abundante; e abundante realmente é, pois não somente nos livra da morte eterna, mas ainda nos restitui a bênção de inocentes, de justos, de santos.

Somente Deus podia cumprir tão grande obra!

Jesus, porém, ainda não está satisfeito: o seu incompreensível amor quer, por meio de suas dores, depor em nossas mãos, como coisa absolutamente nossa, o tesouro infinito de seus méritos, com que possamos obter do Altíssimo todos os bens. Que mais se poderia desejar?

Mas, há bens tão grandes, que o homem não ousaria pedir, nem tão pouco lhe passaria pela mente podê-lo conseguir. Porém, a caridade Infinita do nosso meigo Salvador os premedita; e, com a voz do seu sangue, com os gemidos do seu coração agonizante, a seu Pai nos implora a suma graça de sermos elevados até o amplexo da divindade na Santa Eucaristia, por Ele mesmo instituída nesta noite de sua Paixão.

E como tudo isso ainda não bastava para saciar um amor que não conhece limites, quer Jesus que se nos infunda, e em nossas almas permaneça o seu divino Espírito, o Paráclito: “Pedirei a meu Pai”, dissera Ele nessa mesma noite, “pedirei a meu Pai e ele vos enviará o Espírito Santo”. E agora, aqui no Getsêmani, derramando seu sangue, cumpre o Senhor a sua promessa, tornando-nos dignos de receber o Paráclito, elevando-nos assim o grau supremo da felicidade, da graça e da glória.

Parece que nada mais pode Jesus fazer por nós; um desejo, todavia, tem ainda: recorda-se de que o Pai lhe dissera: “Pede-me e dar-te-ei as nações como herança tua”; e elevando ao Céu o rosto ensanguentado, roga ao Pai que lhe conceda, possa ter, no seio das nações prometidas como herança, um grupo de almas escolhidas, que sejam as esposas prediletas do seu coração, e nas quais possa derramar a abundância das graças por Ele merecidas à custa de tantos sofrimentos: “Dá-me almas, dá-me almas e podes tirar-me tudo”.

Almas, ó meu Pai, dá-me almas, e tudo te entregarei, até a minha vida, que me prol das almas se consumirá no patíbulo. “Dá-me almas”. Entre tantas almas, Jesus escolhe também a tua, deseja-a e, gemendo, pede-a ao Pai, e por ela renova, em particular, a oferta de si mesmo e de suas infinitas penas.

Ó alma, ó alma, quanto és amada por esse Deus que, suando sangue, te escolheu, te quis, te abraçou como sua esposa querida!

Assim, como, daqui a pouco, do alto da cruz, dirá a sua Mãe: “Eis o teu filho”, e na pessoa de São João lhe entregará todos os seus filhos remidos; da mesma forma agora, no Getsêmani, a seu Pai se dirige, exclamando: “Eis os teus filhos”.

Eu, teu filho por natureza, tomo o lugar do homem pecador, para que tome este o meu lugar e se torne teu filho pela graça. Para mim a pena, ó meu Pai, e perdão e paz para o pecador; para mim a morte, para ele a vida; para mim o abandono, ó meu Pai, para ele a perfeita, feliz e eterna união contigo. Eis, eis os teus filhos!

Abraça-os: o meu sangue purifica-os, torna-os belos e dignos de ti.

Pai meu, eu quero (nunca Jesus dissera eu quero, mais agora diz) eu quero que as almas que me destes constituam uma só coisa conosco, unificadas em nós, como também nós somos um.

Lembra-te, meu Pai, que me rebaixei a fazer-me homem, para que o homem fosse elevado até Ti e reinasse na mesma glória por toda a eternidade.

Eis os incompreensíveis mistérios de amor, que se operam no Coração de um Deus! Eis os maravilhosos frutos do sangue de Jesus!

Silêncio, admiração e generoso amor: eis, ó alma remida, ó alma esposa de um Deus humanado, tudo o que poderás oferecer ao teu Jesus em troca desse grande, santo e Infinito amor, com que se imola por ti.

Pausa de Silêncio

OFERECIMENTO

Pai Santo, com o coração compenetrado do mais vivo reconhecimento eu vos dou graças, em nome de todos os homens, porque nos destes um Redentor tão bom e tão generoso pelo qual, com vantagem infinita, termos readquirido os bens perdidos pela culpa original. Ofereço-vos pela salvação de todos os remidos o sangue que ele derramou. Ó! Fazei que os frutos da Redenção, sejam tão copiosos quanto à mesma Redenção, e que o bom Jesus seja conhecido por todos os filhos de Adão, bendito, amado, glorificado por toda a eternidade.

Pai – Nosso, Ave – Maria e Glória.

Pai Santo, eu vos ofereço o precioso sangue de Jesus, para implorar da vossa misericórdia, a exaltação e o incremento da Igreja Católica, a conversão de todos os infiéis, de todos os hereges e de todos os pecadores, a perseverança dos justos e a libertação das almas do Purgatório. Eu vo-lo ofereço para o maior bem dos meus superiores e de todos os que me são mais queridos. E também vo-lo ofereço para santificação de minha alma e para obter a graça que ardentemente vos peço. (Aqui se pede a graça)

Pai – Nosso, Ave – Maria e Glória.

Pai Santo, que tanto amastes o mundo, que lhe enviastes o vosso Filho unigênito, sacrificando-O, exalte-O, e que bem numerosas sejam as almas a Ele perfeitamente unidas e constantemente fiéis, encontrando-se nesse mesmo número também minha pobre alma. Ofereço-vos os gemidos, as súplicas, as agonias de Jesus no Getsêmani, com o sangue por Ele derramado, para que vos digneis despertar nos corações de todos os cristãos uma vivíssima devoção aos mistérios da Redenção, e lhes infundais aquele generoso espírito de sacrifício que torna as almas semelhantes a Jesus.

Pai – Nosso, Ave – Maria e Glória.

CONCLUSÃO

Mais um olhar ao teu Jesus, ó alma, filha do amor e das suas dores. As longas horas da agonia no Getsêmani já se passaram, para dar lugar a uma série interminável de tormentos e às últimas três horas da agonia sobre o patíbulo. Eis Judas, que vem para trair o seu Mestre. E Jesus vai-lhe ao encontro, qual manso cordeiro. Ah! Meu Jesus, terei de vos ver nos braços de um traidor?

Ah! Não! Vinde aos meus braços ou, antes, ao meu coração, ó bom Jesus, pois eu não quero ofender-vos jamais, e sim amar-vos para sempre.

COMUNHÃO ESPIRITUAL

Sugerimos aqui a oração para a Comunhão Espiritual de Santo Afonso de Maria de Ligório

“Meu Jesus, eu creio que estais realmente presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós”