Uma hora de oração com Jesus agonizante no horto das oliveiras
Da bem – aventurada Elena Guerra praticada por Santa Gemma Galgani
Introdução
Põe-te, ó alma piedosa, na
presença do teu amantíssimo Salvador, e pensa naquela noite em que o bom Jesus,
depois de ter instituído a Sagrada Eucaristia, para teu alimento, sai com os
apóstolos e se encaminha para o horto das oliveiras, a fim de dar começo àquela
dolorosíssima Paixão, com a qual devia salvar o mundo.
Aquele rosto divino, em que
resplandeciam todas as graças e formosura, cobre-se de palidez mortal, reflexo
da grande e profunda tristeza que lhe aniquila a alma, tristeza que o bom Jesus
manifesta por suas próprias palavras.
O aflito Jesus volve a ti o seu
olhar, como para te dizer: ó alma querida, que tantas amarguras me custastes,
permanece comigo ao menos uma, e vê se há dor à minha dor! Considera como na
noite da minha agonia debalde “prometi alguém que me consolasse e não o achei”.
Meu adorável Jesus, poderá haver
criatura tão ingrata e de coração tão endurecido, que se recuse a passar uma
hora em vossa companhia, recordando aqueles mistérios de imensa dor e
incomparável amor, que se cumpriram nas trevas da noite de vossa Paixão no
Jardim das Oliveiras?
Meu bom Jesus, eis-me aqui
convosco. Dignai-vos fazer-me compreender a crueldade dos vossos sofrimentos e
o excesso de amor que vos levou a vos imolar como vítima dos meus pecados e de
todos os homens.
PRIMEIRO QUARTO DE HORA
A tristeza de Jesus
A minha alma
está numa tristeza mortal (Mt 26,38)
Não há
sofrimento que se possa comparar com os da hora da morte.
Por isso o nosso Salvador, que é
a verdade infalível, para nos fazer compreender a dor excessiva que o oprimiu
na entrada do horto, declara que sua alma está submersa numa tristeza mortal, isto
é, que a dor que sofre é tão grande que lhe pudera causar a morte.
Encaminha-se depois para o horto
das oliveiras e, chegando ao lugar onde costumava passar as noites em oração,
exorta seus fiéis discípulos que levara consigo para serem testemunhas de suas
amarguras, a velarem e rezarem juntamente com Ele. E afastando-se à distância
de um tiro de pedra, prosta-se ante a Majestade de seu Pai e dá começo à oração
mais generosa que já se fez neste mundo.
A primeira causa da tristeza de
Jesus no jardim foi a vista do horrendo cúmulo de tormentos e opróbrios que em
breve se deviam arremessar a Ele, como as ondas bravias de um mar encapelado
pela fúria da tempestade.
Com efeito, apenas se afasta de
seus queridos discípulos, apresentam-se lhe o pensamento todas as horríveis
cenas de dor e de sangue de sua Sagrada Paixão: traições, ironias, irrisões,
calúnias.
Ainda mais: uma cruel flagelação,
com grande número de açoites, que suas carnes dilaceradas cairão aos pedaços,
até se lhe descobrirem os ossos! Mas não basta. Pungentes espinhos hão de
atormentar até a morte sua sagrada fronte! Prevê ainda as bofetadas, escarros e
mais tratos! Mais: há de sofrera infâmia de uma condenação injusta, e será
escarnecido pelos magnatas de sua nação e pelo povo.
Depois, desfalecido por tantos
sofrimentos, arrastar-se-á até o monte do sacrifício, carregando aos ombros
chagados a cruz, a cujo peso sucumbirá multas vezes. Beberá o amargoso fel,
será despido diante de uma multidão insolente, pregar-se-ão suas mãos e seus
pés, naqueles cravos ficará pendendo três horas suspenso entre o Céu e a Terra,
para expiar, num abismo de sofrimento, as iniquidades do gênero humano! Ainda
não é tudo.
A esses inumeráveis e atrozes
tormentos acrescerão os mais amargos escárnios, os insultos e as provocações!
Depois, a sede ardente,
torturante, aumentada mais ainda pelo vinagre! O abandono do Pai... a dor
imensa de sua Mãe diletíssima e a horrível e pavorosa morte!
Alma remida, filha das penas
atrozes de Jesus, considera o teu Salvador, abismado em um oceano de dores, e
tudo isso por teu amor, para te salvar, para te levar consigo ao Paraíso.
Jesus, oprimido por tanta
angústia, procura os seus três discípulos, aos quais recomendara que velassem e
rezassem, mas encontra-os dormindo.
Nem uma palavra de conforto, nem
um sentimento de compaixão para com Jesus agonizante!
Na amargura desse abandono, Jesus
a ti se dirige, ó alma piedosa, para ver se encontra em teu coração um pouco de
afeto, de compaixão, de gratidão...
E não terás uma palavra de
conforto para o bom Jesus? Se estiveras ao seu lado na noite de sua agonia, que
lhes disseras?
Ah! Abre-lhe o teu coração e
fazes o que então fizestes, o que muito lhe agradará, pois Jesus aceita sempre
com a mesma complacência as demonstrações de afeto dos corações dos seus filhos
fiéis.
Pausa de Silêncio
OFERECIMENTO
Pai Santo, que tanto amastes o
mundo, a ponto de sacrificardes o vosso Filho humanado, eu vos agradeço, em
nome de todos os vossos filhos remidos, este ato de vossa infinita caridade e
vos ofereço a santidade perfeitíssima e todos os merecimentos do vosso Filho
unigênito.
Pai – Nosso, Ave – Maria e Glória.
Pai Santo, que para nos livrar da
perdição eterna, acumulastes sobre a adorável humanidade do vosso Filho
unigênito, o peso formidável de todas as nossas iniquidades, eu vos ofereço as
agonias de Jesus no Gêtsemani, suplicando-vos que me concedais gozar o fruto de
suas horríveis penas por toda a eternidade.
Pai – Nosso, Ave – Maria e
Glória.
Pai Santo, que para reconciliar a
culpada humanidade com Vossa Divina Majestade, submetestes a uma inexorável
justiça o vosso Filho unigênito, que foi obrigado a carregar nos seus inocentes
ombros todas as penas devidas às nossas culpas, ofereço-vos a submissão amorosa
de Jesus no horto, suplicando-vos me concedais a graça da conversão e salvação
de todos os pecadores.
Pai – Nosso, Ave – Maria e
Glória.
SEGUNDO QUARTO DE HORA
Jesus geme sob o peso das
iniquidades humanas
Nas trevas da noite e no abandono
por parte dos seus queridos discípulos, já passou Jesus uma longa e penosa hora
de sofrimentos.
A visão nitidíssima dos cruéis
tormentos que o esperam, enche de terror e de angústias sua alma bendita. Mais
enorme ainda lhe parece o peso de sua missão de Salvador do mundo. Vê já
chegando o tempo de sua imolação.
A Terra e o Inferno conjuram
contra ele. Há de sustentar, pois, uma grande luta: todos os ataques contra ele
se dirigem.
E que faz Jesus? Empalidece,
treme e humildemente recorre ao Pai, exclamando: “Pai, se é possível, afasta de
mim este cálice”.
Qual será a resposta a essa
humilde prece do Filho de Deus? Nenhuma. O Céu não responde ao pobre Jesus!
Pois Jesus quer sofrer mais esta pena para nos implorar uma perseverança
humilde na oração e uma confiança constante, mesmo quando o Céu parece não
atender às nossas súplicas. Ah! Meu bom Jesus, não há pena que não quisésseis
sofrer para nosso conforto e para nosso exemplo.
Acompanha, porém, ó alma piedosa,
o teu Jesus que, levado pelo amor para contigo, avança ainda mais no caminho da
dor. A série horrível de todos os crimes, de todas as perversidades dos filhos
de Adão apresenta – se – lhe ao pensamento e dilacera – lhe a alma. E já se vê
sobrecarregado de todas essas abominações: e, assim, coberto dessas imundícies,
há de comparecer ante os olhos puríssimos de seu Pai.
Não é possível que a inteligência
humana possa compreender, nem tão pouco imaginar o horrível tormento que sofreu
então a bendita e inocentíssima alma de Jesus. Disso piedosamente já ele se
queixara, dizendo pela boca do profeta: “Sobre as minhas costas trabalharam os
pecadores!”.
Oh! Como está o querido Salvador
oprimido sob o peso de tantos pecados! Mas o Divino Cordeiro, que está para ser
imolado à justiça divina, tão ofendida pelos homens, depois de satisfazer as
iniquidades humanas, imolando sua preciosa vida num patíbulo para tirar os
pecados do mundo, poderá, ao menos, esperar que os homens, reconhecidos por
tantos benefícios, estejam dispostos a abandonar o pecado e permanecer fiéis
Àquele que com tantas penas os livrou da morte eterna? Ah! Prouvera que assim
fosse, pobre Jesus.
Entretanto, um quadro ainda mais
horrível aparece ante o seu divino olhar. Vê, depois de ter remido com tantos
sofrimentos a humanidade, e de ter lavrado a Terra com seu sangue precioso,
depois de ter infundido em seus filhos o divino Espírito – Santo e de ter transformado
a Terra em um paraíso de graças n adorável Eucaristia, ah! Depois de tantos
excessos de caridade, vê ainda reinar no mundo o pecado!
Vê conculcada sua santa lei, sua
Igreja perseguida, caluniados os seus ministros, abandonadas as suas graças, o
seu amor desprezo e, chorando exclama: Qual utilitas in sanguine meo? – “Para
que derramar todo o meu sangue?”.
Para que morrer entre os
tormentos de um patíbulo, se depois os homens, ingratos a tantos benefícios,
hão de continuar sempre a se entregar ao demônio e à perdição eterna? Quando
acabará no mundo o reino do pecado?
Aqui o bom Jesus lança um olhar a
todos os séculos do porvir e, em cada século, em cada ano, vê pecados. Pecados
em cada dia, pecados em cada momento! E o peso de todos esses pecados sempre
mais O oprime e Lhe faz repetir: “Sobre as minhas costas trabalharam os
pecadores; prolongaram a sua iniquidade” (Sl 128,3).
Ó minha alma, também estarias tu
no número daqueles que, aumentando a cadeia dos pecados e adiando sempre,
indeterminadamente, a conversão prometida, arranca do coração agonizante de
Jesus aquele lamento cheio de tão justa dor?
Oh! Como é horrendo o pecado,
depois que um Deus derramou todo o seu sangue para o destruir! Oh! Como é
abominável o pecado em almas já lavadas por aquele sangue divino! Em almas
unidas pela Santíssima Eucaristia ao Coração de Jesus! Ó aflitíssimo Salvador,
tendes toda a razão de vos queixar e de chorar!
Mas, se Jesus com tanta razão se
queixa dos pecados dos seus filhos em geral, quanto não sofrerá pelos pecados
dos seus mais queridos, isto é, das almas que lhe são consagradas?
Alma direta, exclama o Redentor,
almas da minha paz, isto é, que sois as amigas íntimas do meu coração, almas
que viveis em minha casa, almas que comeis o meu pão, almas que vos alimentais
à minha mesa, por que me transpassais o coração com o pecado?
Povo do meu coração, que é o que
vos fiz? Em que vos magoei? Mitiguei-vos a sede com as águas celestiais da
minha graça, e dai-me em troca vinagre e fel! Saciei-vos a fome com o precioso
maná da minha Carne, e retribuis-me com bofetadas e flagelos! Povo meu, que é
que vos fiz? Em que vos contristei? Eu vos preparei no Céu um trono, e vós me
apresentais um patíbulo!
Ó alma queridas, diletas do meu
coração, que podia eu fazer por vós que O não tenha feito? Que coisa há que eu
devesse fazer à minha vinha que lhe não tenha feito? (Is 5,4) E em troca de
tanto amor, procurais-me tribulações e espinhos!
Pausa de Silêncio
OFERECIMENTO
Por que não poderia eu, ó meu
aflito Salvador oferece-vos, em troca do vosso infinito amor, o meu coração e
os de todos os homens, inflamados de ardentíssima caridade? Mui compungido pela
minha frieza, ofereço-vos, ó bom Jesus, os desejos ardentes com que os antigos
patriarcas e profetas suspiraram pela vossa vinda, e o santo zelo com que os
vossos apóstolos levaram o vosso nome por toda a Terra.
Pai – Nosso, Ave – Maria e
Glória.
Ofereço-vos, ó meu atormentado
Redentor, a perfeita e terníssima compaixão que teve de vossos sofrimentos
vossa Mãe Imaculada, a Virgem das Dores, e aa perfeitíssima gratidão com que
ela, em nome de todo gênero humano, vos agradeceu, vos louvou e vos bendisse
pelo benefício infinito da Redenção.
Pai – Nosso, Ave – Maria e
Glória.
Meu agonizante Jesus não podendo
eu, mesquinha criatura, darvos como desejara, algum conforto em tantas a
amarguras, ofereço-vos a inexcedível alegria com que a adorável Trindade, juntamente
com todos os anjos do Céu, aplaudiu a grandiosa obra da Redenção, por vós dolorosa
e amorosamente consumada; e suplico-vos também que façais compreender a todos os
vossos filhos, redimidos com o vosso sangue, este mistério de infinita
caridade.
Pai – Nosso, Ave – Maria e
Glória.
TERCEIRO QUARTO DE HORA
O generoso fiat
Contempla, ó alma remida o teu
Salvador, que, com o coração ferido pela ingratidão humana, cai agonizante
sobre a terra fria de Getsêmani. Aí está sozinho, abandonado, sem ter quem O
console, a Ele, que nunca recusou conforto os atribulados aos fracos, aos
infelizes!
Alma fiel, é chegado o momento de
pagares ao aflito Jesus amor com amor. Que terias feito, à noite da Paixão, se
estiveras ao lado de Jesus agonizante?
Meu aflito Senhor, quero
levantar-vos do solo! Quero oferecer-vos meu coração para manter as cores da
vossa face! Quero dizer-vos uma palavra que vos conforte!
Meu meigo Salvador, eu vos amo,
eu vos amo! Que procurar-vos amor, quero proporcionar-vos amor, quero que todos
vos amem, quero empregar toda a minha vida para que sejais amado, sim, para que
sejais muito amado, sempre amado, eternamente amado por todos os vossos filhos.
Meu amável Jesus, disse-vos que
estaria disposto a dar até a minha própria vida, isto é, que estaria pronto a
suportar qualquer sacrifício para vos tornar amado; mas, quando encontrar
alguma leve contrariedade, humilhação, recusa, repreensão, indelicadeza,
sofrerei tudo isso por amor de vós? Amo eu realmente o sacrifício? Folgo de vos
apresentar a mortificação de alguma paixão? Meu bom Jesus, envergonho-me e não
sei o que vos hei de responder. Mas, aqui, perto de vós, aqui, na escola da dor
e do amor, quero aprender, é meu doce Mestre, a mortificar-me, a sacrificar-me
por amor de vós.
Passam, entretanto, lentamente as
horas da mortal agonia de Jesus. Ele, o Deus do Céu e da Terra, geme, prostrado
no chão, sem ter quem o conforte. E os discípulos? Que fazem eles? Dormem! Oh!
Jesus, na noite de sua Paixão, havia de satisfazer também pelo pecado do abandono
dos seus queridos discípulos, e sentia em seu coração toda a amargura desse
abandono.
Jesus, então, aceitou e mesmo
desejou esse sofrimento; mais agora, já não o quer: ao contrário, deseja que os
seus filhos, remidos com o seu sangue divino, velem, meditando na sua Paixão. A
maior parte dos homens, porém, dormem o sono dos ingratos, que consiste no
esquecimento daquele que tanto nos ama e nos quer. Oh! Excesso de ingratidão e
crueldade!
Ó bom Jesus, não vos conhecemos!
Se vos conhecêssemos, pensaríamos sempre em vós, e o nosso coração não
palpitaria senão por vós.
Enquanto Jesus, sozinho, geme e
agoniza, prostrado por terra, eis que um anjo do Céu vem confortá-LO. Jesus,
com a humildade de um Filho obediente, acolhe o mensageiro do Pai celestial,
pronto a submeter-se às suas ordens. O anjo, porém, vem para O alentar, e não
para lhe abrandar os sofrimentos nem para O livrar de sorver o amaríssimo
cálice. Com efeito, o mensageiro celeste anima Jesus a afrontar a grande luta e
a receber todos os golpes que contra ele arremessará p Céu, o mundo e o
Inferno: o Céu, porque a eterna justiça de seu Pai está para punir nele todas
as iniquidades humanas; o mundo, porque não podendo suportar a santidade do
Filho de Deus, lhe prepara o patíbulo; o Inferno, porque incitado pelo ódio
contra o Santo dos Santos, provoca com maior violência a crueldade dos inimigos
de Jesus, para mais barbaramente o atormentarem. Depois o anjo o exorta Jesus a
beber, até a última gota, o cálice abominável das perversidades humanas e a
suportar o peso da Divina Justiça.
Entretanto, justiça e
misericórdia esperam o Fiat de Jesus, com que se hão de conciliar para sempre.
Espera- o Céu, para se poder povoar de santos: espera-o a Terra, que anela por
ver cancelado pelo sangue do divino Redentor a maldição merecida pelo pecado;
esperam-no os justos, prisioneiros no seio de Abraão, para poderem voar ao
amplexo do Criador; esperam-nos míseros mortais, para tornarem a ser filhos de
Deus e verem reabertas as portas do Paraíso.
Mas quando não vai custar esse
Fiat ao meu Jesus! Ele inocentíssimo, Santo e Imaculado, tem de se revestir dos
trajes de pecado, de criminoso! Tem de se fazer réu, tornando próprias as
nossas iniquidades! Isto imensamente o aflige e o faz repetir: “Pai meu, se é
possível, afasta este cálice!”. (Mt 26,29)
Pronuncia o Fiat, e consente
tomar sobre si todos os nossos crimes, como se fora culpado dos mesmos; aceita
e atrai sobre si os terríveis castigos a nós destinados.
Fiat: Faça-se, diz aos espinhos,
para expiar os nossos maus pensamentos. Fiat, aos flagelos, para castigar em
seu corpo inocente os nossos pecados sensuais. Fiat, aos insultos, aos
escarros, às bofetadas, para expiar o nosso orgulho. Fiat, ao vinagre e ao fel,
em satisfação dos nossos inúmeros pecados da língua e da gula. Fiat, à cruz e
aos cravos, em reparação das nossas desobediências.
Fiat àquelas três horas de
horrível agonia sobre o patíbulo, para cancelar todas as nossas culpas e
reparar todos os nossos males. Fiat, finalmente, à morte, para nos dar a vida
eterna.
Oh! Precioso Fiat, que alegra o
Céu, salva o mundo e esmaga o inferno! Fiat, que parte cadeias e enxuga
lágrimas! Graças vos dou, ó bom Jesus, graças vos dou por tão generoso Fiat.
Bendigo-vos e agradeço-vos em nome de toda a humanidade.
Pausa de Silêncio
OFERECIMENTO
Pai Santo, que, em reparação de nossas
rebeldias e desobediências, quisestes ser honrado com o generoso Fiat de Jesus
no Jardim das Oliveiras: eu vo-lo ofereço em expiação de todas as ofensas que a
vossa adorável Majestade recebeu de minha rebelde vontade, suplicando-vos que
me concedais, pelos merecimentos desse mesmo Fiat, perfeita docilidade e
obediência.
Pai – Nosso, Ave – Maria e
Glória.
Pai Santo, pela glória que vos
resultou do generoso Fiat de Jesus no Horto, suplico-vos me perdoeis todas as
minhas rebeliões e desobediências, e me concedais a graça de sempre viver
plenamente submisso à vontade dos meus superiores por amor de vós.
Pai – Nosso, Ave – Maria e
Glória.
Pai Santo, pela magnanimidade e
dolorosas consequências que a Jesus custou o Fiat do Getsêmani, suplico-vos me
concedais a mim, a todas as almas que vos são consagradas e a todos os
cristãos, aquele espírito de santa fortaleza, constância e generosidade que
afronta alegremente, para vossa glória, qualquer sacrifício.
Pai – Nosso, Ave – Maria e
Glória.
ÚLTIMO QUARTO DE HORA
O sangue de Jesus e seus
frutos
Jesus já proferiu o nobre Fiat!
Mas o esforço imenso o faz cair novamente em terra, agonizante, sob o enorme
peso que sobre si tomou. De um lado, aperta-o a divina justiça, considerando-O
como vítima universal, em que se reúnem todas as culpas e todas as penas: de
outro, impele-O o desejo infinito de cumpri a sua missão de Redentor do mundo,
o que lhe antecipa o doloroso e tão desejado batismo de sangue.
Ah! Já agora o bom Jesus se pode
considerar o trigo escolhido, triturado entre duas mós de moinho, ou o sazonado
cacho de uva, espremido no lagar.
Realmente, pela dor imensa que lhe
oprime o coração, começa a suar sangue com tanta abundância que chega a banhar
a terra do jardim.
Oh! Quanto custou a Jesus esse
Fiat! Oh! Quanto teve que sofrer para pagar as nossas dívidas! Que vergonha é
para mim tudo isso, pois recuso ainda os mais leves sacrifícios, depois de ter
visto o meu Deus tornar-se vítima espontânea por amor de mim: “Foi oferecido
porque ele mesmo quis”. (Is. 53,7).
Mas, para que, doce Jesus, vos
consumirdes entre tantas dores, vós, que com um só suspiro poderíeis salvar o mundo
todo?
Já o profeta predissera que a
redenção de Jesus seria abundante; e abundante realmente é, pois não somente
nos livra da morte eterna, mas ainda nos restitui a bênção de inocentes, de
justos, de santos.
Somente Deus podia cumprir tão
grande obra!
Jesus, porém, ainda não está
satisfeito: o seu incompreensível amor quer, por meio de suas dores, depor em
nossas mãos, como coisa absolutamente nossa, o tesouro infinito de seus
méritos, com que possamos obter do Altíssimo todos os bens. Que mais se poderia
desejar?
Mas, há bens tão grandes, que o
homem não ousaria pedir, nem tão pouco lhe passaria pela mente podê-lo
conseguir. Porém, a caridade Infinita do nosso meigo Salvador os premedita; e,
com a voz do seu sangue, com os gemidos do seu coração agonizante, a seu Pai
nos implora a suma graça de sermos elevados até o amplexo da divindade na Santa
Eucaristia, por Ele mesmo instituída nesta noite de sua Paixão.
E como tudo isso ainda não
bastava para saciar um amor que não conhece limites, quer Jesus que se nos
infunda, e em nossas almas permaneça o seu divino Espírito, o Paráclito:
“Pedirei a meu Pai”, dissera Ele nessa mesma noite, “pedirei a meu Pai e ele
vos enviará o Espírito Santo”. E agora, aqui no Getsêmani, derramando seu
sangue, cumpre o Senhor a sua promessa, tornando-nos dignos de receber o
Paráclito, elevando-nos assim o grau supremo da felicidade, da graça e da
glória.
Parece que nada mais pode Jesus
fazer por nós; um desejo, todavia, tem ainda: recorda-se de que o Pai lhe
dissera: “Pede-me e dar-te-ei as nações como herança tua”; e elevando ao Céu o
rosto ensanguentado, roga ao Pai que lhe conceda, possa ter, no seio das nações
prometidas como herança, um grupo de almas escolhidas, que sejam as esposas
prediletas do seu coração, e nas quais possa derramar a abundância das graças
por Ele merecidas à custa de tantos sofrimentos: “Dá-me almas, dá-me almas e
podes tirar-me tudo”.
Almas, ó meu Pai, dá-me almas, e
tudo te entregarei, até a minha vida, que me prol das almas se consumirá no
patíbulo. “Dá-me almas”. Entre tantas almas, Jesus escolhe também a tua,
deseja-a e, gemendo, pede-a ao Pai, e por ela renova, em particular, a oferta
de si mesmo e de suas infinitas penas.
Ó alma, ó alma, quanto és amada
por esse Deus que, suando sangue, te escolheu, te quis, te abraçou como sua
esposa querida!
Assim, como, daqui a pouco, do
alto da cruz, dirá a sua Mãe: “Eis o teu filho”, e na pessoa de São João lhe
entregará todos os seus filhos remidos; da mesma forma agora, no Getsêmani, a
seu Pai se dirige, exclamando: “Eis os teus filhos”.
Eu, teu filho por natureza, tomo
o lugar do homem pecador, para que tome este o meu lugar e se torne teu filho
pela graça. Para mim a pena, ó meu Pai, e perdão e paz para o pecador; para mim
a morte, para ele a vida; para mim o abandono, ó meu Pai, para ele a perfeita,
feliz e eterna união contigo. Eis, eis os teus filhos!
Abraça-os: o meu sangue
purifica-os, torna-os belos e dignos de ti.
Pai meu, eu quero (nunca Jesus
dissera eu quero, mais agora diz) eu quero que as almas que me destes
constituam uma só coisa conosco, unificadas em nós, como também nós somos um.
Lembra-te, meu Pai, que me
rebaixei a fazer-me homem, para que o homem fosse elevado até Ti e reinasse na
mesma glória por toda a eternidade.
Eis os incompreensíveis mistérios
de amor, que se operam no Coração de um Deus! Eis os maravilhosos frutos do sangue
de Jesus!
Silêncio, admiração e generoso
amor: eis, ó alma remida, ó alma esposa de um Deus humanado, tudo o que poderás
oferecer ao teu Jesus em troca desse grande, santo e Infinito amor, com que se
imola por ti.
Pausa de Silêncio
OFERECIMENTO
Pai Santo, com o coração compenetrado
do mais vivo reconhecimento eu vos dou graças, em nome de todos os homens,
porque nos destes um Redentor tão bom e tão generoso pelo qual, com vantagem
infinita, termos readquirido os bens perdidos pela culpa original. Ofereço-vos
pela salvação de todos os remidos o sangue que ele derramou. Ó! Fazei que os
frutos da Redenção, sejam tão copiosos quanto à mesma Redenção, e que o bom
Jesus seja conhecido por todos os filhos de Adão, bendito, amado, glorificado
por toda a eternidade.
Pai – Nosso, Ave – Maria e
Glória.
Pai Santo, eu vos ofereço o
precioso sangue de Jesus, para implorar da vossa misericórdia, a exaltação e o
incremento da Igreja Católica, a conversão de todos os infiéis, de todos os
hereges e de todos os pecadores, a perseverança dos justos e a libertação das
almas do Purgatório. Eu vo-lo ofereço para o maior bem dos meus superiores e de
todos os que me são mais queridos. E também vo-lo ofereço para santificação de
minha alma e para obter a graça que ardentemente vos peço. (Aqui se pede a
graça)
Pai – Nosso, Ave – Maria e
Glória.
Pai Santo, que tanto amastes o
mundo, que lhe enviastes o vosso Filho unigênito, sacrificando-O, exalte-O, e
que bem numerosas sejam as almas a Ele perfeitamente unidas e constantemente fiéis,
encontrando-se nesse mesmo número também minha pobre alma. Ofereço-vos os
gemidos, as súplicas, as agonias de Jesus no Getsêmani, com o sangue por Ele
derramado, para que vos digneis despertar nos corações de todos os cristãos uma
vivíssima devoção aos mistérios da Redenção, e lhes infundais aquele generoso
espírito de sacrifício que torna as almas semelhantes a Jesus.
Pai – Nosso, Ave – Maria e
Glória.
CONCLUSÃO
Mais um olhar ao teu Jesus, ó
alma, filha do amor e das suas dores. As longas horas da agonia no Getsêmani já
se passaram, para dar lugar a uma série interminável de tormentos e às últimas
três horas da agonia sobre o patíbulo. Eis Judas, que vem para trair o seu
Mestre. E Jesus vai-lhe ao encontro, qual manso cordeiro. Ah! Meu Jesus, terei
de vos ver nos braços de um traidor?
Ah! Não! Vinde aos meus braços
ou, antes, ao meu coração, ó bom Jesus, pois eu não quero ofender-vos jamais, e
sim amar-vos para sempre.
COMUNHÃO ESPIRITUAL
Sugerimos aqui a oração para a
Comunhão Espiritual de Santo Afonso de Maria de Ligório
“Meu Jesus, eu creio que estais
realmente presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as
coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no
Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração.
Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente.
Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós”