quinta-feira, 27 de junho de 2019

Deus, eu, a psicóloga e os remédios

Bom, é meio difícil escrever sobre este assunto, talvez por não ser um assunto muito fácil de se falar, mas como diz a famosa frase: “As palavras convencem, mas os testemunhos arrastam”. Sendo assim, decidi contar um pouquinho sobre o meu testemunho para vocês.
Para quem não me conhece, me chamo Renata, tenho 26 anos, faço parte do Grupo de Oração e sou ministra extraordinária da Comunhão. Desde que me conheço como gente participo ativamente na Igreja Católica. Até os meus 7 anos participava acompanhando os meus pais, minha vó, meu irmão e minha irmã nos eventos dos coroinhas e nas missas. Dos 7 aos 18 anos fui coroinha e cerimoniaria. Depois disso, fui catequista e agente da pastoral vocacional. Após sair da catequese e da pastoral vocacional, entrei no Grupo de Oração. E por último, fui convidada a ser ministra extraordinária da Comunhão.
Quando criança, fui uma menina meio quieta (acreditem se quiser rs), e ao decorrer dos anos fui crescendo, amadurecendo, tomando as minhas próprias decisões. Posso afirmar que até os meus 15 anos, mais ou menos, tinha uma vida normal, como a maioria das adolescentes dessa idade. Mas foi quando eu comecei a ter os primeiros sintomas da depressão. Contudo, como estava na famosa época de transformação, pensei que estava mais relacionado a minha idade do que com a doença propriamente dita. Nesta época, meus pais me ajudaram a procurar ajuda e comecei a ir na psicóloga e fazer acompanhamento com a psiquiatra. Aos poucos, fui melhorando e fiz uma besteira que muitos fazem: decidi parar de tomar os remédios, parei de ir na psiquiatra porque me sentia bem sem os remédios. Depois de um tempo, recebi alta da minha psicóloga e tudo ficou muito bem por um tempo bom.
Acontece que em 2015, no meu último ano de faculdade, comecei a me sentir meio que sobrecarregada e muito desanimada, mas achava que era o estresse das provas, TCC e os outros compromissos que surgem nesta época da nossa vida. Terminei a faculdade e continuava me sentido diferente, mas no meu ponto de vista, estava tudo bem, afinal de contas, estava formada, servindo no Grupo de Oração que amo, a única coisa ruim era que não tinha passado na OAB e estava desempregada, coisas que somente o tempo poderia resolver, e que quando fossem resolvidas, estaria ainda melhor.
Meu ano de 2016, foi um ano bom, porém, me sentia cansada com frequência, mesmo não fazendo quase nada. O desanimo muitas vezes tomava conta de mim, meu sono era totalmente bagunçado: ou dormia muito, ou não dormia nada. Sentia um vazio dentro de mim, um vazio diferente, um vazio que nem mesmo Deus parecia preencher; não tinha gosto pela vida.  Quando estava com os meus amigos, precisava fingir ser uma Renata alegre, mas as minhas amigas mais próximas sabiam de tudo isso e SEMPRE me davam a seguinte sugestão “Re, procura um psicólogo, você não está bem". Só que na minha inocência, era uma questão de tempo para tudo passar. Resumidamente, empurrei meu 2016 e o começo de 2017 com a barriga, achando que em algum dia eu iria acordar e ter novamente a vontade de viver, que a alegria voltaria a brotar na minha vida do nada.
No começo de maio de 2017, percebi que não estava nada bem, parecia que tinha me tornado outra Renata, já não fazia tanta questão de sair com o pessoal do Grupo de Oração, muitas vezes faltava nos meus compromissos e, quando ia, acabava inconscientemente me isolando das pessoas. A minha melhor companhia tinha se tornado a solidão, o lugar aonde mais desejava estar era no meu quarto e criei uma visão de que a morte não era algo tão ruim e muitas vezes uma solução para os nossos problemas. O suicídio não me soava mais como algo errado, o meu vazio parecia ter tomado conta de todo o meu ser. Mas foi quando finalmente decidi ouvir minhas amigas e procurei uma psicóloga. Este foi um passo muito importante na minha vida, pois aos poucos fui me abrindo com a psicóloga e, de acordo com os teste que ela aplicou, ao decorrer do tempo estava com depressão moderada. Mas era preciso ir no psiquiatra para ter o diagnóstico. Foi quando decidi discordar totalmente da minha psicóloga, porque na minha cabeça pensava “beleza, se estou com depressão, vou fazer terapia, confiar em Deus e me curar, mas não vou tomar remédios”. A terapia me ajudava e muito, em vários momentos, porém, os sintomas ainda batiam na minha porta e cada dia que passava parecia que a minha vida tinha se tornado um pesadelo. Mesmo com o acompanhamento com a psicóloga, comecei a me isolar cada dia mais. Meu primeiro pensamento foi “bom, vou sair do Grupo de Oração, afinal de contas, como vou falar para as pessoas que Deus é a alegria da minha juventude se não tenho mais alegria nenhuma?, como vou testemunhar um Deus de milagres se Ele não me dá uma forcinha para sair da depressão?”. Porém, Deus no teu infinito amor, me deu amigas muito boas e que nunca desistiram de mim, e por consideração a elas, eu ia de vez em quando ao Grupo de Oração. Foi necessário quase um ano para que eu decidisse ouvir minhas amigas e a minha psicóloga e buscar a ajuda do psiquiatra.
De início, foi bem difícil criar uma relação entre eu e o psiquiatra, aceitar que precisava tomar os remédios, decidir começar a tomar os remédios. Depois os efeitos colaterais dos remédios, a insegurança de estar fazendo algo errado.
Bom, hoje faz aproximadamente 1 ano e meio que tomo remédios e, para minha felicidade, o meu médico disse que se eu continuar assim, posso ter alta daqui um ano. Minha vida mudou bastante, não vou falar que voltei a ser a Renata de antigamente, mas posso dizer que aprendi a ser uma Renata nova, aos poucos fui descobrindo coisas novas sobre mim mesma. Com a ajuda dos remédios, os sintomas foram diminuindo; com a ajuda da psicóloga, fui encontrando formas de superar minhas dificuldades, para quando eu não precisar tomar o remédio, eu consiga vencer os meus problemas; e com a ajuda de Deus, tenho caminhado cada dia de uma forma melhor. Hoje voltei a minha rotina no serviço, no Grupo de Oração, no ministério, voltei a ter a minha vida normalmente.
Bom, o texto ficou meio grande, mas escrevi tudo isso só para mostrar que: Católicos, também podem ter depressão ou qualquer outro tipo de doença psíquica, e que talvez você, assim como eu, não escute muitas vezes testemunhos de pessoas que passaram por isso, não porque não exista, mas sim, porque muitas vezes as pessoas  possuem vergonha de testemunhar, afinal de contas, infelizmente na Igreja e no mundo, ainda existem muitas pessoas que acham que ter depressão é falta de Deus, mas na verdade, não é. Depressão é uma doença como qualquer outra. Também decidi escrever para falar que Deus faz milagres, sim mas Deus já nos deu a cura através do tratamento com os psicólogos, os psiquiatras e os remédios; foi Deus quem criou tudo e é Deus quem capacita esses profissionais.
Para finalizar, gostaria de dizer que na minha vida, a cura da depressão, ou melhor, o caminho para cura da depressão precisou da somatória de 5 elementos: 1º) Deus: acreditar que Deus ira me curar no momento certo e da maneira certa; 2º) a minha vontade: decidir ser curada, correr atrás do tratamento, obedecer aos profissionais; 3º) a psicóloga: que me ajuda a encarar os meus pensamentos, os meus sintomas e olhar para tudo com um olhar diferente; 4º) o psiquiatra: afinal de contas, psicólogo não pode receitar remédios, por isso, é necessário um médico psiquiatra; 5º) os remédios: que agem no meu sistema nervoso, normalizando o fluxo de neurotransmissores.
Portanto, talvez você esteja caminhando rumo a cura, mas ainda falte um desses elementos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário